Olá, sou Isaac Daniel, e hoje trago uma história intrigante, cheia de nuances e ramificações históricas. A história de Bartolomeu Gonçalves de Melo e Felipa da Silva, um casal que provavelmente foi um dos primeiros a habitar a região de Taquaraçu de Minas e deixou um legado notável através de sua vasta prole. Vamos mergulhar nessa história?
Essa postagem conta com atualizações feitas em novembro de 2024 após novas descobertas.
Os Primeiros Proprietários da Fazenda Morro Vermelho
Bartolomeu Gonçalves de Melo e Felipa da Silva foram os primeiros proprietários da Fazenda de Morro Vermelho. Localizada no extremo nordeste de Taquaraçu de Minas, bem perto da atual fronteira com Jaboticatubas, a fazenda ocupava um espaço nas proximidades da Serra dos Afonsos, como relata Leônidas Marques Afonso no livro “Histórias de Jaboticatubas”.
A origem de Bartolomeu e Felipa é uma incógnita. Não se sabe quando ou onde nasceram. O que sabemos, graças aos registros de batismo da antiga Capela da Penha de Taquaraçu, é que eles foram figuras frequentes nos primeiros dias daquela comunidade. O primeiro registro de Bartolomeu na região é um documento de compra de uma roça que está guardado no Museu do Ouro/Casa Borba Gato, Sabará, no qual é datado de 1731.
É possível que Bartolomeu tenha adotado o sobrenome “Melo” após estabelecer-se em Sabará, uma prática comum para diferenciar-se de outros habitantes com o mesmo nome. Na época, já residia na região um homem chamado Bartolomeu Gonçalves Bahia, o que pode ter levado à necessidade de um novo sobrenome para evitar confusões.
Os Dez Filhos de Bartolomeu e Felipa
O casal teve ao menos dez filhos, com registros de batismo encontrados nas capelas de Nossa Senhora da Lapa (Ravena) e Nossa Senhora da Penha (Taquaraçu de Minas). Sua descendência fez contribuições significativas à região, com filhos estabelecendo-se em Jaboticatubas e Nova União e deixando vasta prole.
- Clara Gonçalves da Conceição, nascida em data incerta, porém provavelmente antes de 1740. Casou-se com Damazo Antônio da Silva em 31 de agosto de 1758 na Capela da Penha.
- Mariana Gonçalves da Conceição, nascida em data incerta, porém provavelmente antes de 1742. Casou-se com o português Manoel Borges de Araújo em 16 de janeiro de 1760 na Capela da Penha e possui grande descendência em Taquaraçu e Jaboticatubas.
- João Gonçalves de Melo, nascido em 1742 e batizado na Capela da Lapa (Atual Ravena, Sabará) em 22 de maio de 1742. Foi casado com Urçula Rodrigues da Fonseca. Morreu no ano de 1808, com 66 anos e sepultado na Capela do Ribeirão, Jaboticatubas, em 21 de fevereiro de 1808.
- Maria Gonçalves da Conceição, nascida em 1744 e batizada em 6 de agosto de 1744 na Capela da Lapa, casou-se em data incerta com o português Manoel Moreira de Almeida e tiveram 3 filhos, Antonio Moreira Amâncio, Manoel Moreira Moço e Maria Moreira do Nascimento. O casal se estabeleceu na fazenda Bomsucesso, em Nova União. Maria faleceu em 16 de janeiro de 1816.
- Anna Gonçalves da Conceição, nascida em 24 de julho de 1746 e batizada em 10 de agosto de 1746 na Capela da Lapa, Sabará. Casou-se com José Ferreira Velho em local e datas incertas, e não tiveram filhos. Faleceu 17 de janeiro de 1809 de acordo com seu testamento disponível no Arquivo Público Mineiro.
- José Gonçalves de Melo, nascido em 15 de outubro de 1748 e batizado em 30 de outubro de 1748 na Capela da Penha. Mudou-se de Taquaraçu de Minas para Jaboticatubas e construiu residência no lugar denominado Sapé, no vale do ribeirão Vermelho. Casou com uma senhora, de nome incerto, e teve ao menos dois filhos, Genoveva Gonçalves da Fonseca e Manoel Gonçalves de Melo. Seus filhos tiveram grande descendência em Jaboticatubas.
- Florêncio Gonçalves de Melo, nasceu no dia 14 de março de 1751 e batizado em 5 de abril de 1751 na Capela da Penha. Casou em data incerta, provavelmente anterior a 1780, com Paula Fernandes, pois nesse ano nasceu sua filha Maria.
- Antônio Gonçalves de Melo, nasceu no dia 11 de agosto de 1752 e batizado em 3 de setembro de 1752 na Capela da Penha, nenhuma outra informação foi encontrada no momento.
- Roza Gonçalves da Conceição, nasceu no dia 6 de novembro de 1755 e batizada em 23 de novembro 1755 na Capela da Penha, casada com Francisco Xavier de Souza em data anterior a 1782, data de nascimento de uma das filhas do casal.
- Ursula Gonçalves da Conceição, nascida em data incerta, mas provavelmente era a caçula, pois se casou apenas em 18 de fevereiro de 1787, na Matriz de Sabará, com Manoel José Dias, português de Santa Eulália de Lamelas, bispado do Porto (atual região de Santo Tirso, Portugal).
Escravidão e Alforria: Contrastes da Fazenda Morro Vermelho
Possuindo uma fazenda, Bartolomeu era também proprietário de escravos. Não se sabe o número exato, mas pelo menos seis escravos são documentados nos registros de batismo. Os nomes de José, Josefa, Felipa, Maria, Feliciana e Sebastião aparecem, pintando um quadro do legado sombrio da escravidão.
Curiosamente, há fortes suspeitas de que Felipa da Silva fosse uma negra alforriada. Seu sobrenome “Silva” era comumente atribuído a muitos escravos trazidos para o Brasil. Além disso, no registro de batismo de Maria, neta de Felipa, filha de Florêncio e Paula, eles são definidos como “pardos forros” (forro de alforriado), o que indica uma origem negra.
Possíveis parentescos de Felipa
Uma maneira de obter informações sobre pessoas do passado é através da análise dos registros da igreja católica da região onde viveram, especialmente aqueles em que Bartolomeu e Felipa aparecem como padrinhos de batismo. Esses registros podem fornecer indícios de possíveis parentescos. Chamaram minha atenção alguns registros envolvendo duas pessoas com o sobrenome ‘Carvalho da Silva’. Felipa da Silva aparece várias vezes como madrinha de filhos dos casais João Carvalho da Silva e Maria Martins da Conceição e Manoel Alves Correa e Antônia Carvalha da Silva. O fato de Felipa ser madrinha pode sugerir uma relação de parentesco com João e Antônia, considerando que todos compartilham o sobrenome Silva. Ainda não foram encontrados documentos em que Felipa leve o sobrenome Carvalho, mas, caso tal registro venha à tona, isso poderá confirmar o vínculo familiar.
O Falecimento de Bartolomeu e o Legado de Felipa
Bartolomeu faleceu em algum momento entre 1765 e 1766, após ter sido citado como padrinho em registros de 1765. Com sua morte, Felipa da Silva, sua esposa, precisou buscar meios para sustentar os filhos, ainda menores de idade, já que a maioridade na época era alcançada apenas aos 21 anos. Em 1766, Felipa encaminhou uma petição ao governo português, solicitando o direito de administrar os bens da família em prol dos filhos. Este pedido foi registrado em um documento preservado no Arquivo Histórico Ultramarino, em Portugal, embora a cópia digitalizada disponível esteja com trechos ilegíveis, impedindo a leitura completa dos detalhes dessa solicitação.
Até o momento, não foi localizado nenhum registro de óbito de Felipa, o que deixa em aberto a questão de sua idade e de quantos anos viveu. Contudo, um registro na Igreja Matriz de Santa Luzia pode fornecer uma pista importante.
O documento, datado de 1º de abril de 1806, relata:
No primeiro de abril de mil oitocentos e seis se sepultou dentro desta Matriz de Santa Luzia, Filipa da Silva crioula sogra de Gregório de Souza, foi confessada e ungida e encomendada de minha licença pelo padre Manoel Dias Vital de que se fez este assento que assino.
Neste registro, temos a menção de uma mulher negra (crioula) sepultada no interior da igreja, uma prática incomum, mas que ocorria em alguns casos, geralmente indicando certo prestígio social. A data de 1806 é plausível, considerando que os primeiros filhos de Felipa nasceram por volta de 1740, o que sugeriria que ela teria entre 86 e 90 anos de idade no momento do falecimento.
Contudo, há um ponto de incerteza: nenhuma das seis filhas conhecidas de Felipa casou-se com um Gregório de Souza. Identificar quem era esse Gregório de Souza e com quem ele era casado torna-se essencial para verificar se esta Filipa da Silva corresponde de fato à esposa de Bartolomeu ou se trata-se de uma homônima. Além disso, a presença de Felipa da Silva, uma mulher negra (crioula), sepultada no interior da Matriz, poderia também confirmar a hipótese de que ela era uma alforriada, sugerindo que, mesmo após a alforria, ela alcançou certo prestígio na comunidade. A busca por registros adicionais, como inventários ou listas de testamentos, poderia revelar mais sobre as relações familiares de Felipa e, talvez, esclarecer sua condição social e trajetória após a possível alforria. A ausência de documentação direta deixa em aberto esse mistério, e qualquer vínculo comprovado com Gregório de Souza poderia trazer mais clareza sobre o destino de Felipa, além de enriquecer nossa compreensão das redes sociais e familiares da época.
Espero que este mergulho na história tenha sido tão fascinante para você quanto foi para mim. Cada personagem, cada nome, é uma peça no intrincado quebra-cabeça da história de nossa região. E ao reunir essas peças, conseguimos vislumbrar a vida como ela era – e como moldou o que somos hoje.
Nomes e suas variações
- Bartolomeu Gonçalves de Melo
- Bartholomeu Gonsalves de Mello
- Bartolomeu Gonsalves de Mello
- Felipa da Silva
- Filipa da Silva
- Fillippa da Silva
- Felipa da Sylva
- Felipa Carvalha da Silva (possibilidade)